quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Reunião com a Direcção do Atlético Clube de Portugal

Está marcada para o próximo Sábado uma reunião entre o nosso colaborador, Vítor Rodrigues, e a Direcção do Atlético Clube de Portugal, que será acompanhada por uma visita guiada às instalações do Clube.
Do resultado dessa reunião/visita daremos conta logo que nos seja possível.

Entretanto continuam a decorrer as conversações com os responsáveis do jornal "O Comércio de Alcântara" no sentido de ser possível utilizar os arquivos daquele períodico referentes à História do Atlético, que são em quantidade razoável, conforme o Vítor rodrigues já teve oportunidade de constatar.
Tudo está bem encaminhado e a breve trecho esse material deverá ser disponibilizado ao nosso blog, sem quaisquer custos para nós, o que desde já se agradece.
Também em relação a isto ocorrerá uma reunião com o sr. Vítor Rodrigues, ainda sem data marcada, conducente à efectivação do acordo.

Nuno Almeida

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Textáfrica 0 - Atlético 1 (ACTUALIZADO)

Quis o destino que na época de 1973-1974, o Atlético visse o sorteio para a Taça de Portugal definir-lhe como adversário, o Textáfrica, equipa de Vila Pery, Moçambique.
Naquele tempo algumas equipas dos territórios do Império eram apuradas para a Taça de Portugal. Foi assim que a equipa da Vila Pery se viu nestas andanças, selando o seu destino com o do Atlético clube de Portugal.
Este jogo teve uma particularidade, já que se tratou da última deslocação de uma equipa da Metrópole, como era referido na época o Continente, a territórios ultramarinos, em provas oficiais da Federação Portuguesa de Futebol.
O Atlético, que naquele ano disputava o Campeonato Nacional da II Divisão, protagonizando, nessa época, a sua última subida à I Divisão, por onde se iria manter por mais três derradeiras temporadas; havia defrontado, anteriormente, e vencido, a 11 de Novembro de 1973, o Futebol Clube de Alverca, na casa deste por 0-2, para a 2ª eliminatória, já que os clubes da sua divisão estavam isentos da eliminatória inicial. Igualmente, este jogo encerrou a curiosidade de ter sido a primeira vez que as duas equipas se defrontaram. À época, o Futebol Clube de Alverca disputava a 3ª Divisão Nacional.
Seguindo em frente, na 3ª eliminatória da Taça, a 27 de Janeiro de 1974, já com a revolução à porta, o Atlético recebeu e venceu, na Tapadinha, a União de Leiria, que era seu “colega de zona” na II Divisão; e na 4ª eliminatória afastaria o Sintrense, no pelado da Portela, por resultado idêntico (1-2).
Chegávamos então à 5ª eliminatória. Curiosamente, na época anterior 72-73, os caprichos dos sorteios da Taça já haviam feito com que o Atlético se deslocasse a África, só que daquela vez a Angola, onde defrontou e venceu (1-2) o Benfica de Huambo, no Estádio Cosme Damião, na Cidade de Nova Lisboa. Desta vez a África era outra, era a África Oriental Portuguesa, ou seja, Moçambique, onde o Atlético Clube de Portugal já estivera, em digressão, em 1951.
A história deste jogo é bastante atribulada já que estávamos em Moçambique, na Cidade de Vila Pery, em 1974, em pleno período de Guerra Colonial, numa zona muito próxima de uma das frentes do teatro de operações.
O jogo seria disputado a 7 de Abril de 1974, no campo do Soalpo, em Vila Pery, actual cidade de Chimoio, perante numerosa assistência, já que a vinda de uma equipa da Capital do Império suscitava sempre grande curiosidade que extravasava o fenómeno futebol.
O Atlético, apesar de ter vencido o encontro, já lá iremos, apresentou-se no terreno em condições físicas deficitárias, longe de serem as ideais para a prática de futebol, em resultado de uma atribulada viagem. A comitiva alcantarense viajou dia 4 de Abril, tendo chegao a Lourenço Marques, actual Maputo, de madrugada, ou seja, ás primeiras horas de 5 de Abril, sexta-feira.
Segundo os jornais da época, a comitiva do Atlético terá permanecido no Aeroporto Internacional de Lourenço Marques entre as 2.15 e as 4.00 da madrugada, só conseguindo-se um hotel para a equipa descansar pelos alvores da manhã.
Não deixa de ser curioso reparar que naquele tempo uma equipa de futebol partia para África sem reservas de hotel antecipadas, ou pelo menos isso acontecia com o Atlético; ou seja, passe o exagero, de Alcântara partia-se para lá do Cabo da Boa Esperança, sem saber o que encontrar, tal como no Sec. XV Gama o fez.
Esta é aliás uma situação referida pelos jornais da época, já que normalmente cabia ao Governo da Colónia salvaguardar a chegada e a estada das equipas metropolitanas. Estávamos, já se vê, a 5 de Abril de 1974, e por esta pequena amostra se vê que algo já não ia bem na vida do Império.
O Atlético não teve direito a qualquer recepção oficial à sua chegada, o que ia contra os preceitos da época, e também não havia hotel reservado pelo Governo da Província.
A comitiva do Atlético foi então repartida por dois hotéis onde pode de alguma forma repousar.
Ainda segundo a imprensa da época, apurou-se mais tarde que a Federação Portuguesa de Futebol cometera o lapso de não comunicar a presença do Atlético à Associação Provincial de Futebol de Moçambique (actual Federação Moçambicana de Futebol), daí a ausência do acompanhamento adequado. Ou seja o mal instalado partia da metrópole e não da província ultramarina.
Na sequência disto, foi sugerida à equipa do Atlético Clube de Portugal que partisse por via terrestre para Vila Pery, situação a que se opôs firmemente o chefe da comitiva, sr. Agostinho Gil, hoje um septuagenário estabelecido em Alcântara, com um negócio de drogaria, já que tal viagem, para além de desgastante, cerca de 1200 quilómetros, afigurava-se bastante perigosa pois tratava-se de atravessar um território em guerra. Foi então resolvida a situação através de um sistema de táxis aéreos. O Atlético viajou por terra até à Beira e daí tomou táxis aéreos para Vila Pery.
A equipa do Atlético chegou à terra do Textáfrica a meio da manhã de 7 de Abril, dia do jogo, estando este marcado para as 15 horas, dessa tarde, 14 horas em Lisboa.
Foi nestas condições, portanto, aquelas em que a equipa do Atlético defrontou o Textáfriaca, completamente arrasada duma venturosa viagem.
O jogo disputou-se sob fortes medidas de segurança asseguradas pelo Exército Português, já que Vila Pery era uma zona do conflito armado que grassava naquela província ultramarina.
Sobre este tema, procuraremos brevemente chegar à fala com o sr. Agostinho Gil através do nosso colaborador Vítor Rodrigues
Vamos então ao jogo.
O Atlético era na época treinado por Fernando Mendes e o Textáfrica por josef Fabian. Aqui há outra curiosidade. Josef Fabian era um húngaro dissidente que se radicara em Portugal, anos antes, para jogar futebol, tendo depois tornado-se treinador. Foi nesta faceta que passou pela Tapadinha, já que chegou a ser treinador do Atlético.
Apesar do desgaste físico da viagem, a equipa de Alcântara mostrou melhor futebol, melhor táctica, melhor técnica e mais velocidade, sendo este conjunto de factores uma fonte de preocupações para Josef Fabian e os seus jogadores.
Ou seja, o resultado final de 0-1, que já se fazia sentir ao intervalo, acabou por não ser, de forma alguma o espelho do jogo.
A bem escalonada defesa do Atlético, com Caló em tarde de inspiração, não permitia quaisquer infiltrações dos rapazes do textáfrica no último reduto alcantarense.
O jogo foi sempre controlado pelo Atlético e o resultado só não foi outro graças ao guarda-redes Maló, em exibição notável, que mais tarde haveria de ir para o Clube Académico de Coimbra (clube sucessor da Académica, no futebol profissional, durante o período 1974-1984)
Aos 31 minutos registou-se o golo do Atlético, O tento nasceu de uma jogada aparentemente inofensiva com Maló a cometer o seu único erro. Leitão, postado do lado direito, recebeu a bola de Clésio, que se encontrava na esquerda, com inteligência desviou a trajectória da bola introduzindo-a na baliza. Maló não contava com esta “finta”, acabando por ser mal batido. 

O Atlético ganhou o jogo mas a figura do jogo foi o guarda-redes do Textáfrica,
Maló, que haveria de jogar na Briosa

No segundo tempo o Atlético voltou a ser a estrela do jogo, dispondo de boas oportunidades, nunca concretizadas e sempre negadas por Maló. Maló defendeu um remate à queima-roupa aos 70 minutos, e aos 80, Seidi enviou uma bola à trave. Pouco depois o mesmo Seidi era rasteirado na are, mas o árbitro não considerou e marcou livre à entrada desta, que Leitão cobrou de forma deficiente, para fora.
O Atlético foi o justo vencedor pois a sua superioridade foi evidente em todos os capítulos, inclusive no físico, apesar da desgastante viagem.
O Árbitro, originário da cidade angolana de Sá de Bandeira, actual Lubango, foi Hildebrando Monte e as equipas alinharam da seguinte forma.
Textáfrica – Maló; Mambo, Madeira, Vicente e Zeza; Sebastião, Bessa e Fernando Rodrigues; Paiva, Miguel e Zacarias.
Atlético – Lapa; Esmoriz, Caló, Candeias (cap.), e Franque; Mesquita e Nogueira; Seidi, Clésio, Leitão e Vasques. No inicio da 2ª parte Guaçu entrou para o lugar de Clésio, e três minutos depois Semedo substituía Nogueira.
Na época só eram permitidas duas substituições e, infelizmente, não conseguimos apurar as eventuais substituições ocorridas na equipa da casa, se as houve, já que nos anos 70 não era incomum efectuarem-se jogos sem se operarem substituições.
O Atlético continuaria assim na Taça de Portugal onde haveria de ser eliminado pelo Sporting Clube Farense, mas essa é outra história.
Passado, o jogo, o Atlético regressaria à metrópole em condições semelhantes à sua ida, num Portugal cujo rumo iria mudar brevemente e que tão negativamente haveria de marcar o futuro, hoje já passado, do Atlético Clube de Portugal.

Factos curiosos, mas tristes
Naturalmente que para além dos documentos da época a que tivemos acesso tentámos complementar informação através de outros meios, nomeadamente pesquisas na internet, na busca de um depoimento ou de uma foto do jogo.
Estas buscas foram, infelizmente infrutíferas e sobre a derradeira ida a África, de um clube português, em período colonial, nada encontrámos que acrescentasse às linhas anteriores.
Contudo, encontrámos algumas linhas colaterais relacionada com o jogo.

Sob a pena do antigo 2º Sargento da Força Aérea portuguesa (FAP) Augusto Ferreira, actualmente a residir na cidade Coimbra encontramos algumas linhas que transcrevemos de seguida, bem como algumas fotos que, com a devida vénia, reproduzimos.

2º Sargento Miliciano Augusto Ferreira

“Este aeródromo (o do Chimoio, antiga Vila Pery – n.d.r.) ficava sensivelmente a meio, entre Tete e Beira, e era onde se dava algum apoio aos nossos aviões. Era utilizado pelo seu aeroclube, pelos táxis aéreos, aviões de pulverização do algodão e pela nossa Força Aérea.
Pois é, estávamos lá em 1973 com as nossas máquinas, quando surgiu em táxis aéreos, a equipa de futebol do Atlético, que estava ali para jogar com o Textáfrica, para a Taça de Portugal.
Claro que fomos ver o jogo e o Atlético acabou por vencer por 0-1. O pessoal da FAP teve até direito a medalhas. Nas despedidas, um simpático  dirigente do Atlético, resolveu tirar-nos umas fotos, com o compromisso de no-las enviar para casa, logo que chegassem à "Metrópole", o que aconteceu.”
da esquerda para a direita:
especialista mecânico de material aéreo (nome desconhecido), alferes Brás e 2º sargento Ferreira 

Em relação á foto que te envio acontece que passados cerca de 8 a 15 dias, não posso precisar,estava na altura na BA 10 -Beira quando recebi a notícia de acidente com T6 no Aeródromo do Chimoio. O Alferes Brás voava rasante ao aeródromo quando, numa volta mal controlada, o T6 entrou em perda e se despenhou, embatendo no solo, incendiando-se de imediato. O Brás morreu carbonizado, foi horrível, segundo relatos de companheiros nossos que nada puderam fazer.
Provavelmente, a família do Brás recebeu a notícia da sua morte juntamente com a foto que o nosso amigo do Atlético, simpaticamente, nos quis enviar para casa…”
e ainda:
“Para complementar a primeira notícia, envio-te a outra foto, que nos tiraram na altura os dirigentes do Atlético, que estiveram lá no célebre jogo com o Textáfrica, para a Taça de Portugal e ainda a medalha, que nos entregaram, na altura das despedidas. (…)”



da esquerda para a direita:
especialista mecânico de material aéreo (nome desconhecido), alferes Brás e 2º sargento Ferreira 





exemplar da medalha que o Atlético levou para oferecer em África


Curiosamente, e para terminar, referir que há uma imprecisão nas palavras escritas do sr. Augusto Ferreira, antigo 2º sargento da FAP, ao referir o ano de 1973, certamente atraiçoado pela memória, como sendo o ano destes acontecimentos. De facto as fotos em questão e a passagem do Atlético pelo actual Chimoio ocorreu no dia 7 de Abril de 1974, data muito provável das duas fotos aqui exibidas.

Àcerca disto, na mesma página http://vitlis.com/Chimoio/acidente-ac-chimoio-1973/, o sr. Vitorino Teixeira faz o seguinte reparo:
"Muito obrigado "colega" Augusto Ferreira.
Faço aqui a correcção de datas; o acidente aconteceu após o 25 de Abril e o funeral do Toninho Rebelo foi em 2 de Maio de 1974.
Estes dados foram-me confirmados por familiares do Rebelo no recente encontro de Chimoienses no Buçaco em 6/9/2009.
Também procurei na "net" dados sobre a Taça de Portugal de 1973/74 e encontrei a confirmação do jogo Textáfrica-Atlético na quinta eliminatória ( já em Abril de1974 )."

Nuno Almeida
(todos os direitos reservados)

sábado, 18 de setembro de 2010

Parabéns, Atlético!

Depois de uma atribulada e acelarado processo de fusão, há precisamente 68 anos União Foot-ball Lisboa (1910-1942) e Carcavelinhos Futebol Clube (1912-1942) uniam-se e nascia o Atlético Clube de Portugal

Antes de falar-mos deste blog e da sua evolução, não queremos deixar de desejar ao Atlético mais 68 anos de glória.

E agora....

  Como fazemos este blog 

Temos recebido alguns e-mail enaltecendo o nosso trabalho, mas também outros a pedirem maior periodicidade na publicação de novos textos.

Temos que deixar, forçosamente, aqui uma explicação. Este é um blog sobre a História do Atlético. Sendo um site histórico, os temas a abordar necessitam de um tempo de pesquisa, mas sobretudo de verificacação e validação histórica pois queremos que os riscos de contar aqui algo que não corresponda exactamente ao sucedido sejam mínimos, se bem que também tenhamos a consciência que isso possa suceder.

Para terem uma idéia, para publicarmos o texto do "Caso Vital" tivemos que fazer 4 visitas à Hemeroteca de lisboa e um contacto à Federação Portuguesa de Futebol.

Não julguem que dispomos de vastos arquivos sobre a história do clube. De facto, temos muito pouco; portanto tudo o que foi ou venha a ser publicado foi ou será alvo de investigação apurada.

É também por isso que iniciámos contactos com o jornal "O Comércio de Alcântara", no sentido de podemos usar a vasta informação que sabemos estar na posse daquele períodico, sobretudo imagens; e é também por isso que nos próximos dias reuniremos com o Pressidente do Atlético (ou eventualmente em quem este delegar).

Neste momento temos uma boa meia-dúzia de histórias em desenvolvimento, infelizmente nem uma única está completa, pois ou falta validar resultados, ou falta mesmo partes da história que se mantém por apurar.

Porque queremos que este seja mais do que "outro blog" do Atlético, regemo-nos por um rigor que pode (e é) inimigo da velocidade de produção.

Vítor Rodrigues

domingo, 12 de setembro de 2010

Estamos em contacto com a Direcção do Clube

Na sequência de uma mensagem deixada no nosso chat, entramos em contacto, no inicio do mês, com a Direcção do Atlético clube de Portugal, inquirindo sobre o objectivo de tal aproximação.


Respondido foi o nosso e-mail, pelo sr. Presidente da Direcção, convidando-nos a uma deslocação à sede do Clube, tendo-se no entanto mostrado inconclusivo o objectivo de tal reunião. Não havendo disponibilidade directa de tal deslocação, foi proposto que fossemos representados pelo sr. Vítor Rodrigues, nosso amigo e colaborador.

O Blog Atlético CP Total aguarda agora que o sr. Presidente se pronuncie sobre a nossa proposta, tendo ficado desde já esclarecido sobre os nossos propósitos.

Nuno Almeida

sábado, 11 de setembro de 2010

O Caso Vital

Poucos já se recordarão, mas em 1948, há cerca de 62 anos, o Atlético Clube de Portugal cortou relações com o Futebol Clube do Porto, naquele que ficou conhecido como o “Caso Vital”.
Eduardo Martins Vital era jogador do Atlético, avançado. Tinha vindo para o Atlético devido à necessidade de o Clube sentir em reforçar a sua equipa principal, numa época em que o Presidente da Direcção era o Capitão Alcino Júlio Pires. Assim, foi através do Presidente da Direcção que foram estabelecidos contactos com os “Onze Unidos do Montijo” afim de assegurar a transferência de dois jogadores: Vital e Caninhas.

Para o caso interessa-nos agora, e somente, Vital.

Os números das duas transferências fazem-nos actualmente sorrir, mas os aldegalenses receberam do Atlético, pelos dois jogadores, a quantia, considerável para a época, de trinta mil escudos, isto é; 150 euros na moeda actual. Vital recebeu ainda um prémio de transferência no valor de vinte e cinco mil escudos, pago pelo Atlético, do qual assinou recibo, que certamente ainda estará nos arquivos da Tapadinha. Tudo legal e no enquadramento da Lei vigente naquela época.

Durante a época de 1947-1948, os dois jogadores, Caninhas e Vital, foram autores de excelentes exibições e atraíram as atenções gerais, sobretudo Vital, que pelo seu posicionamento em campo, na linha avançada, originou um festival de futebol e golos. Vital é ainda hoje o detentor do record do jogador que mais golos marcou, num só jogo e na 1ª Divisão, pelo Atlético: seis, num fantástico e épico Atlético – Olhanense cujo resultado foi 10-4.

Esta situação atraiu naturalmente a cobiça de terceiros clubes que tentara de alguma forma aliciar o jogador para mudar de camisola. Assim, durante o ano de 1948 um clube com quem o Atlético mantinha as melhores e cordiais relações começou a cobiçar de forma inequívoca o jogador. Esse clube, à época da mesma dimensão do Atlético, era o Futebol Clube do Porto. A situação foi tal que a determinada altura toda a imprensa desportiva alardeava o interesse dos portistas em Vital. Começou a estalar o verniz, quando, evidentemente, foi publicado que Vital haveria recebido, do Futebol Clube do Porto, um sinal de dez mil escudos, como prova evidente dos nortenhos.

A notícia indignou a Direcção do Atlético que quis tirar a limpo, junto do jogador, o que se passava.
Vital tudo negou e redigiu um texto que assinou e que cuja transcriçaõ na íntegra é a seguinte:

“Declaro por minha honra de que não recebi dinheiro algum de qualquer director do Futebol Clube do Porto, e que não desejo mudar futebol por qualquer outro clube que não seja o Atlético Clube de Portugal. Tudo o que se disse sobre uma possível transferência minha para qualquer outro clube, é falsa.”

Este documento foi reconhecido notarialmente no cartório do Dr. Féria Theotónio. Em Lisboa, a 28 de Maio de 1948.

Se calhar até falava verdade, pelo que se passou a seguir poderemos imaginar que o dinheiro veio pelas mãos do roupeiro, por exemplo, e não de nenhum director portista, e os desejos mudam-se, como se sabe.
Apesar do formal desmentido de Eduardo vital, os boatos foram-se avolumando e a 15 de Junho de 1948, o Atlético envia um ofício ao Futebol Clube do Porto perguntando se teria havido, da parte de alguém afecto àquele clube. Alguma aproximação ou aliciamento ao jogador Eduardo Vital. Na Tapadinha ainda hoje se aguarda a resposta a esse ofício…
O silêncio da Direcção do Futebol Clube do Porto foi interpretado em Alcântara como se algo estivesse evidentemente a passar. Assim, como precaução, a Direcção do Capitão Pires endereçou a 22 de Junho, ao sr. Director Geral dos Desportos, um oficio pondo-o ao corrente das manobras revoltantes que o Futebol Clube do Porto estaria a efectuar a fim de contar com o concurso do jogador Vital. Para além disso, a 7 de Julho de 1948, o Atlético volta a endereçar à direcção portista, liderada por Cesário bonito, novo ofício, confirmando o anterior, que torna a não obter resposta.
Dias depois confirmava-se: apesar do documento assinado, sob compromisso de honra, que para Vital teria um valor que poderemos considerar como simbólico, o jogador pedia a sua transferência para o Futebol Clube do Porto, ao abrigo do Decreto 32946, artº 32º, §1º, que estabelecia a possibilidade dessa transferência se o Atleta fosse ocupar profissionalmente um lugar na função pública fora da área do clube que representava.
Só que esse emprego era hipotético e na repartição de finanças do Porto nunca ninguém soube quem era o servente Vital, como veremos.
O Atlético Clube de Portugal esperou serenamente os acontecimentos, já que considerava a questão da ocupação de cargo público uma farsa, e assim o considerou, efectivamente, o sr. Director Geral dos Desportos que indeferiu o pedido.
Assim que se soube do despacho do sr. Director Geral dos Desportos, o jogador Vital, que já se encontrava na cidade invicta, regressou a Lisboa e apresentou-se na Tapadinha, voltando inclusive a alinhar pelo Atlético na festa de homenagem que se fizera naquela época a Carlos Canuto, o grande fundador do Carcavelinhos, em jogo que opôs o atlético ao Benfica.

Vital, uma vez na capital, endereçou a 4 de Setembro uma carta ao sr. Ministro da educação Nacional, pedindo a anulação da transferência. Tudo parecia ter voltado á normalidade.
Pura ilusão, porém. A 7 de Setembro de 1948, porém, um volte-face surpreendente. O Atlético recebe o ofício nº 0/402, da federação portuguesa de Futebol, com o seguinte teor:

“Levo ao conhecimento de vª Exª que Sua Excelência o Ministro da Educação Nacional, por seu despacho de 4 do corrente, determina que se considera transferido para o Futebol Clube do Porto, desde a data da sua nomeação para o Porto, o jogador Eduardo Martins Vital.”

Na mesma data, a 7 de Setembro, o jogador Vital remeteu ao Ministro das Finanças o documento que passamos a transcrever:

“Eduardo Martins Vital vem por este meio, para os devidos efeitos, declarar a Vossa Excelência, que desiste do lugar de servente da Repartição de Finanças do Distrito do Porto, pelo que roga a Vª Exª se digne mandar cancelar a sua nomeação.”

Apesar do pedido de anulação de transferência subscrito pelo jogador Vital, a 14 de Setembro, o jogador recebe da Federação Portuguesa de Futebol o seguinte e singular ofício:

“Para seu conhecimento e devidos efeitos, abaixo se transcreve o teor do despacho exarado por Sua Excelência o Ministro da Educação Nacional, no requerimento de anulação do seu pedido de transferência para o Futebol C. do Porto: «Indeferido. Esta pretensão corresponde a um novo pedido de transferência para Lisboa apresentado extemporaneamente, visto o interessado já estar transferido para o Porto, embora sob a condição da sua nomeação para um lugar público».”

É evidente que o Ministro, Fernando Andrade Pires de Lima, ignorou o despacho do Director-Geral dos Desportos, algo só possível graças ao regime corporativista em que se vivia.
Naturalmente o que salta à vista é que a trama foi bem feita, e se é notável a rapidez com que despachavam os Ministros do Estado Novo, coisa que não se consegue hoje, apesar das tecnologias emergentes, também se concebe que a carta de Vital ao Ministro seria o “sinal” que iria despoletar que o resultado desta trama fosse desfavorável ao Atlético.
Portanto, Vital foi transferido para o Futebol Clube do Porto porque ia trabalhar como servente na repartição de finanças daquela cidade, mas desistiu do lugar no dia em que a transferência foi consumada. Obviamente “pornográfico”!

No entanto, o Atlético não desarmou, embora soubesse que as forças em confronto eram desiguais, sabendo da razão que lhe assistia. Assim, efectuou uma larga exposição ao Ministro explanado as “aventuras” do jogador Vital e o comportamento da direcção do Futebol Clube do Porto. Claro que era óbvio que portistas e Ministro estavam conluiados pelo que as esperanças eram reduzidas.
O resultado da explanação do Atlético ao ministro foi insólito, estado Novo no “seu melhor”. Em resposta, o Ministério mandou instaurar um inquérito a jogador Vital, por comportamento incorrecto, tendo a Federação Portuguesa de Futebol nomeado inquiridor (ou será inquisidor?) Manuel Cachulo da Trindade, então Secretário-Adjunto da associação de futebol de Coimbra.

Na sequência, em reunião extraordinária de Direcção, a 19 de Setembro de 1948, eram cortadas relações desportivas com o Futebol Clube do Porto, tendo a mesma Direcção, nessa data, demitindo-se colectivamente, mostrando não serem tão apegados ao lugar como outras direcções de clubes actuais.

Resta recordar que todo este processo acabou por não ser benéfico para as partes envolvidas. O Atlético perdeu um excelente jogador, Vital viu a sua carreira ensombrada e nunca chegou a brilhar no Futebol Clube do Porto, e o FC Porto não tirou grande proveito do jogador… ou será que contratou para desfalcar?

Para concluir, relembremos que este corte de relações durou alguns anos. Na época de 1954-1955 o Sport Lisboa e Benfica serviu de intermediário na reaproximação dos dois emblemas, tendo tudo ficado resolvido a 30 de Janeiro de 1955 quando, para selar a reconciliação, se disputou na Tapadinha um amigável Atlético – FC Porto. Em disputa estava a Taça Reconciliação que acabou por ficar em Alcântara já que o Atlético ganhou por 4-1, com hat-trick de Henrique Ben David e mais um golo de Castíglia.

Há ainda uma história deliciosa relacionada como Caso vital e que remonta a 1952, o ano em que o Futebol Clube do Porto inaugurou o defunto Estádio das Antas, a 28 de Maio, feriado da Revolução Nacional, como se dizia à época.
Basicamente, para a inauguração do seu estádio, o Futebol Clube do Porto achou por bem que este fosse ornamentado com as bandeiras de todos os clubes que à época militavam na 1ª Divisão, mas havia um problema que era o facto de FC Porto e Atlético estarem de relações cortadas. Ainda assim, a Direcção do Futebol Clube do Porto enviou um ofício à Tapadinha a requisitar a cedência da Bandeira para ornamentar o Estádio das Antas durante a inauguração.
Formalmente, o Atlético informou o Futebol Clube do Porto que estavam de relações cortadas com o clube e que, logicamente, não podia aceder ao pedido.
Mas na verdade é que, ao que se sabe hoje, dentro do FC Porto não havia qualquer animosidade com o Atlético. Então, a Direcção do FC Porto resolveu simplesmente mandar fazer uma bandeira igual à do Atlético. Ou seja, mesmo de relações cortadas o FC Porto desfraldou a bandeira do Atlético no dia da inauguração do Estádio das Antas. Conforme cita o jornal “O Porto”, ao relembrar o episódio, em 1955, a propósito da reconciliação: “(…) a sua linda bandeira flutuou ao vento. Esteve erguida à frente de toda a gente num dos mastros de honra das Antas e recebeu, ao ser erguida, o aplauso de 50 mil pessoas!”
Ao que parece, Atlético Clube de Portugal e Futebol Clube do Porto estavam de relações cortadas mas não eram inimigos. Que diferentes eram aqueles tempos, quando comparados aos de hoje.

Infelizmente não nos foi possível localizar qualquer imagem de Eduardo Martins Vital.

Texto: Nuno Almeida
Pesquisa: Vítor Rodrigues
(todos os direitos reservados)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O emblema do Atlético Clube de Portugal

Não poderíamos, evidentemente, esquecermo-nos de falar da simbologia do emblema do Atlético Clube de Portugal, certamente a mais simples e descomplicada dos três emblemas.
Fruto da fusão do União com o Carcavelinhos, em 1942, o estabelecimento de um emblema para a novel agremiação foi, à época, alvo de um concurso, não sabemos se público, se restrito aos sócios de ambos os clubes, que não eram poucos, se recordarmos que o Atlético, nos seus anos dourados chegou a ter 12000 sócios, qualquer coisa como cerca de 10 vezes mais do que o total actual, segundo fonte interna, mas oficiosa, do clube, à qual damos o maior crédito.

Assim, não sabemos quantos, nem conhecemos os seus desenhos, mas terão havido várias propostas para o desenho do distintivo do novo clube

Ao certo, terão pelo menos havido dois concorrentes, mas julgamos que bastantes mais. Um deles foi a proposta vencedora, cujo autor terá sido o pai da Drª Marina Champion, actual Vice-Presidente do Clube, contudo não nos foi possível confirmar esta hipótese, para já, pelo que a informação aqui fica, “à condição”.
O outro, cujo desenho desconhecemos, foi da autoria do sr. Álvaro Henriques Cruz, antigo vidraceiro da Calçada da Tapada, com estabelecimento junto à Igreja de Alcântara, e que à data do seu falecimento (coisa não muito antiga) era o sócio nº 2 do Atlético Clube de Portugal. Foi ainda sócio do Carcavelinhos desde 22 de Setembro de 1932, e por consequência sócio fundador do Atlético Clube de Portugal.
Sabemos que houveram mais candidaturas mas desconhecemos quantas, os seus desenhos ou autores, sendo talvez hoje, algo difícil, desenterrar estas histórias do inicio da vida do Atlético.
Assim, com pena nossa, ficamos reduzidos à proposta que foi escolhida para emblema do Atlético cujo desenho bem conhecemos.


O emblema é encimado pela já tradicional coroa acastelada de cinco torres, herdada dos emblemas quer do União, quer do Carcavelinhos. A coroa pode ainda ser ornamentada, ou não, na sua base, com 2 rubis e 3 esmeraldas.
Aqui há uma história curiosa, não documentada ou confirmada, que nos foi contada há uns bons quinze anos pelo sr. Álvaro Henriques Cruz que se prende com a utilização das esmeraldas e rubis na ornamentação do emblema. Segundo esta fonte, o Atlético só utilizaria as pedras preciosas no seu emblema nos anos em que a sua equipa de futebol estivesse na 1ª Divisão, ou nos anos em que fosse detentora de algum título nacional. Não foi possível confirmar esta história, mas damos todo o crédito às palavras do sr. Álvaro Henriques Cruz, infelizmente já falecido, como foi dito atrás; contudo isto explicaria porque nas últimas décadas o emblema do clube, nas suas versões impressas, tenha deixado de ostentar as pedras preciosas.

Deixemo-nos então devaneios e passemos ao resto do emblema. Este é unido à coroa pelas extremidades desta, sendo o espaço originado entre os dois elementos, preenchido a vermelho. O corpo do emblema é constituído por um triângulo isósceles invertido, uma modernidade para a época, se pensarmos que a maioria dos clubes utilizava um escudo com arco ogival invertido como base.

Desconhecemos se esta originalidade terá sido determinada por genialidade do seu autor, ou se simplesmente pela falta de um compasso para desenhar o arco ogival invertido. Pode parecer ridículo, mas em 1942 um compasso era um produto de tecnologia de ponta, cujo acesso era proibitivo à maioria das bolsas, e que não seria qualquer um que soubesse manipulá-lo.

Assim, esta é mais uma incógnita sobre o nosso emblema, mas vamos acreditar que se trata de um rasgo de genialidade o que determinou que o corpo do emblema fosse um triângulo isósceles invertido.

Tal como a coroa, o corpo do emblema é bordejado por um filete a oiro. Sobre o lado esquerdo, em posição inclinada, acompanhando a aresta do triângulo, estão três faixas de largura idêntica, por esta ordem, da esquerda para a direita: Amarela Vermelha e Azul.

Que significam estas faixas?

Nada de mais simples a Amarela e a Vermelha são velhas amigas que já estavam presentes no emblema do União Foot-ball Lisboa; a novidade é a faixa azul.

Se repararmos, então temos aqui as cores dos dois clubes que deram origem ao Atlético. A Amarela e a Vermelha representam o União; e novamente a Vermelha e também a Azul representam o Carcavelinhos pois estas eram as cores daquele clube. Claro, bem sabemos que o Carcavelinhos trajava de Grená e Azul, e não de Vermelho e Azul, mas houve certamente uma necessidade de consenso e afinal o Grená mais não é do que Vermelho escuro, pelo que a representação nos parece absolutamente aceitável, e ao júri que terá escolhido este emblema, cuja constituição igualmente desconhecemos, certamente que também.

Assim temos que a faixa vermelha, representa a cor comum aos dois clubes do qual o Atlético nasceu, simbolizando por si só a união entre o Carcavelinhos e o União Lisboa.

No resto do emblema, estávamos a descrevê-lo, em fundo branco e em letras que poderão ser negras ou doiradas, por extenso, no topo, em caixa alta, a palavra “Atlético”, e por baixo, acompanhando de forma harmoniosa a moldura, as letras “C” e “P”, significando “Clube” e “Portugal”, respectivamente.

Por vezes, o nosso emblema é mal representado Os erros mais vulgares são: cor errada das pedras preciosas, representação da letra “P”, e não preenchimento a vermelho entre a base da coroa e topo do emblema. São situações a que nem sequer, infelizmente, os documentos oficiais do clube escapam. Por exemplo, no cabeçalho do jornal do clube constatarão que o emblema padece do erro da letra “P”, que consiste em que a ponta inferior do “P” não acompanhe até ao vértice inferior do triângulo isósceles invertido. Padece ainda do erro do não preenchimento a vermelho do espaço entre a base da coroa e o topo do corpo do emblema. São, em nossa opinião, dois erros inconcebíveis, num documento que é a imagem do clube “fora de portas” e que deviam ser corrigidos rapidamente.

Assim, nos nossos “bonecos” abaixo, a representação da esquerda está correcta, mas a da direita temo tal erro do “P” e da ausência de vermelho entre a coroa e o corpo do emblema.


Não é hoje comum encontrarem-se erros ao nível da representação das pedras preciosas, até porque há muitos anos que os documentos oficiais do clube deixaram de as ostentar, mas muitas vezes estes erros eram determinados por questões económicas, sendo vulgar a substituição das esmeraldas por safiras, por serem azuis, já que a utilização do verde obrigava a mais uma passagem de máquina na impressão, aumentando os custos. O emblema abaixo corresponde ao desenho original da proposta vencedora e as cores estão correctas.

Nuno Almeida
(todos os direitos reservados)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Reunião Atlético CP Total / O Comércio de Alcântara

Como havia sido divulgado anteriormente no Atlético CP Total, tínhamos marcada para ontem, 5 de Setembro, uma reunião com os responsáveis do jornal “O Comércio de Alcântara”. Como é do conhecimento geral aquele periódico detém nos seus arquivos vasta documentação sobre o Atlético Clube de Portugal e clubes que lhe deram origem, bem como larga documentação fotográfica dos últimos 10 anos do Clube.


A intenção do Atlético CP Total nesta reunião era tentar chegar a um acordo que possibilitasse o acesso ou até a divulgação desse material, em moldes que seriam acordados entre as partes.

O Atlético CP Total foi recebido pelo director da publicação, Luís S. Howell, que depois de se inteirar que o Atlético CP Total não tinha qualquer relação com elementos dos actuais órgãos do clube, nos explanou demoradamente o contencioso que mantém com a Direcção do Clube, tendo-nos facultado o acesso a documentação, sobretudo os emanados pelo Clube, que atestam a legitimidade da sua posição.

Depois disto colocou-nos a questão se “será que é favorável para o vosso projecto aliarem-se ao Comércio de Alcântara?”, ao que o Atlético CP Total respondeu que nada nos prendia ao Clube, somente esta ideia de ir divulgando o seu passado, pelo que não nos parecia lógica a questão que nos era posta já que não havia qualquer contacto entre o Atlético CP Total e o Clube.

Neste contexto, e depois de nos inteirarmos, em síntese, do que consistiam os arquivos referentes ao Atlético concluímos que era de importância fulcral para o nosso projecto chegar a um entendimento com “O Comércio de Alcântara”.

O responsável pela publicação perguntou-nos por contrapartidas para a utilização desse material, referindo taxativamente que o jornal poderia ter fins sociais, mas também tinha fins lucrativos. Mostrou-se sensível ao nosso apelo, esclareceu que as contrapartidas não teriam de ser monetárias, mas que não iria ceder material a troco de nada, pelo que aguardaria com gosto uma proposta da nossa parte, ficando desde já acordada uma nova reunião para depois da saída da próxima edição do jornal, o que deverá atirar a nova reunião para meados deste mês.

Vítor Rodrigues

sábado, 4 de setembro de 2010

Um subsídio para a compreensão do emblema do Carcavelinhos

De fonte anónima, e àcerca da simbologio e razões de ser do emblema do Carcavelinhos Futebol Clube e da utilização da Cruz de Malta, obtivémos a seguinte informação que nos paraeceu pertinente.

"Gostaria de sublinhar no emblema do Carcavelinhos Futebol Clube a Cruz de Malta  (também associada à Ordem dos Hospitalários e à povoação do Cratto), com os seus 4 braços e 8 pontas, foi escolhida como provável referência ao Priorado do Crato. Com efeito, ainda hoje existe em Alcântara a Rua D. António Prior do Crato ou Rua Prior do Crato".

Trata-se de (mais) uma hipótese bem provável já que a Cruz de Malta era efectivamente usada por Dom António, já que este pertencia à Ordem dos Hospitalários (mais tarde Ordem Soberana e Militar de Malta), cujo brazão reproduzimos em baixo à direita, da qual a cruz faz parte efectivamente das suas armas.



Assim, a escolha da Cruz de Malta seria uma referência a Dom António, Prior do Crato (à esquerda) que, a 25 de Agosto de 1580, tentou defender, na Batalha de Alcântara (que terá sido travada sensivelmente junto à estação de Alcântara-Terra e zonas limítrofes), a independência de Portugal, e cujo infeliz desfecho trouxe as conhecidas consequências. Neste sentido, o clube de Carlos Canuto (um dos ideólogos do Carcavelinhos) poderá ter escolhido a Cruz de Malta por esta fazer parte das armas de Dom António, em homenagem sentida de Alcântara ao herói do Séc. XVI, que alguns historia dores reconhecem como o último rei da II Dinastia. Em baixo, representação da Batalha de Alcântara.


Nuno Almeida

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O emblema do Carcavelinhos Football Clube

Ao contrário do que sucedeu com o União Foo-tball Lisboa, dispomos de pouca informação sobre o significado do emblema do Carcavelinhos Football Clube. Deste, são no entanto, conhecidas 3 variações. Uma versão, porventura original, que vigorou nos primeiros anos e outras duas, muito similares, em que a diferença essencial é a utilização, primeiro de 4 torres na coroa acastelada, mais tarde 5 torres, tal e qual como se verificara com o distintivo do União, e ao contrário do que citámos no texto do passado dia 1 de Setembro.

O primeiro emblema apresenta um escudete irregular, mas simétrico, contendo no seu interior uma águia de asas abertas sobre uma bola, que se supõe seja de futebol. Em volta desta, as iniciais "CFC". É um emblema cujas cores desconhecemos mas que se assemelha, curiosamente ao do extinto Sport Comércio e Salgueiros, não sendo, no entanto, previsível que se tenham inspirado um no outro, devido à distância, mas também ao facto de não sabermos a partir de que momento o Salgueiros começou a utilizar o emblema com que "morreu". Como se pode verificar, as semelhanças são evidentes:


À esquerda, o emblema original do Carcavelinhos; à direita o distintivo do Sport Comércio e Salgueiros. As semelhanças são mais que uma evidência.

Este emblema terá sido utilizado desde a fundação do clube, 14 de Fevereiro de 1912, ou próximo disso, até data incerta. No entanto, em 1928, quando o Carcavelinhos foi Campeão de Portugal em futebol, era já o conhecido emblema da Cruz de Malta o utilizado, embora na versão de 4 torres. Esta versão de 4 torres estava ainda em utilização em 1932, por altura do 20º aniversário do Clube, pelo que se remete para os últimos anos de existência do mesmo a utilização do emblema com a coroa de 5 torres.


Este emblema, vai coroado por um castelo de 4 ou 5 torres, consoante a época, a base do castelo, tal como acontecia com o emblema do União, é ornamentada por 3 rubis (vermelho) e 2 safiras (azul), no emblema do União são esmeraldas. São conhecidas, no entanto outras versões em que o número de rubis e safiras é consideravelmente maior, o que se compreende, pois numa época em que as técnicas de reprodução não estavam tão acessíveis torna-se natural este tipo de variações, sobretudo quando o artista reproduzia por “memória” o emblema.

Como foi descrito, não foi possível, nos nossos parcos arquivos, escrutinar o significado dos emblemas do Carcavelinhos, vamos no entanto dissertar um pouco sobre eles.

Comecemos pelo emblema original.

Este é um emblema cuja origem desconhecemos, mas atrevemo-nos a dizer que não terá significado de maior. Na época era comum, como ainda hoje, associarem-se animais aos emblemas dos clubes e se se sabe que os alcantarenses adoptaram o nome de "Carcavelinhos" em homenagem aos ingleses do Carcavelos Club, talvez a águia tenha sido uma homenagem ao Sport Lisboa, primeira equipa a conseguir derrotar esses mesmos ingleses.

Outra questão que se coloca, em relação a este emblema é, quais seriam as suas cores, já que a única reprodução a que tivemos acesso está impressa a uma cor, negro, neste caso, como se verifica na imagem.

Quem nos pode fazer um pouco de luz é o Atlético Clube de Arrentela. Esta agremiação, nasceu filial do Carcavelinhos Football Clube, com o nome de Arrentela Futebol Clube. Aquando da formação do Atlético, não abdicou da sua filiação no novel clube, mudou a sua designação para a actual, mas manteve o emblema de inspiração “carcaveliniana”.

Também do Arrentela são conhecidos três emblemas, dos quais dois, os que nos interessam, são aqui apresentados. O original e o actual.



O emblema em falta é igual ao actual, com as iniciais "AFC", ao invés de "ACA". Se bem que o emblema original do Arrentela Futebol Clube pareça ter sido desenhado a partir de uma memória desctitiva e não a partir de um original, é aceitável que esteja muito próximo do original, perguntando-se somente se a águia estará de facto na posição certa?!

Como podemos verificar a águia é doirada em ambos os emblemas do Arrentela. Sabendo-se que se tratava de uma filial do Carcavelinhos, apresentava um distintivo similar sendo altamente provável que as cores fossem idênticas. Assim, julgamos que podemos arriscar afirmar que a águia do emblema inicial do Carcavelinhos seria, doirada ou, se preferirem, amarela. Quanto ao resto do emblema, a coisa já pia mais fino já que o emblema do Arrentela Futebol Clube também não nos ajuda particularmente, mas correndo o risco de afirmarmos o maior dos disparates, talvez não andemos longe da verdade se afirmarmos que o escudete era bordejado a grená (ou bordeaux, para quem preferir modernices), uma das cores do equipamento do Carcavelinhos; e que as letras "CFC" estariam impressas a azul, a outra cor do equipamento do Carcavelinhos. Arriscar que a bola de futebol, feita em couro, estaria a castanho também não nos parece mal; assim, o primeiro emblema do Carcavelinhos andaria perto disto:


Como se pode verificar, algo mesmo muito semelhante ao emblema do extinto Salgueiros.
Voltemo-nos agora para o outro emblema do Carcavelinhos, quer na sua versão de 4 ou 5 torres, porventura o distintivo mais conhecido e que vigorou desde data incerta até à extinsão do clube, em 1942.

O emblema é encimado por um castelo que pode ter 4 ou 5 torres, como dissemos, com uma base composta de pelo menos 5 pedras preciosas, em geral 3 rubis e duas safiras, igualmente neste campo existem algumas variações nas diversas representações a que tivemos acesso.

O castelo é de ouro, mas existem representações esporádicas em que o castelo é de prata, naquilo que assumimos ser uma corruptela do emblema, determinada talvez por limitações tecnológicas quanto ao número de cores da impressão.

Sob o Castelo, tal como no emblema do União, um escudo com base em arco ogival invertido está desigualmente repartido em dois campos, por uma linha horizontal. No campo superior, em fundo azul, encontram-se as iniciais do Clube “CFC”, normalmente representadas a doirado; no campo inferior, correspondendo sensivelmente a, pelo menos, dois terços da área total, em fundo grená, encontra-se a Cruz de Malta, normalmente representada em prateado.

Desconhecemos a razão porque a determinada altura o Carcavelinhos Football Clube abandonou a simbologia da águia, e a trocou pela Cruz de Malta.

Encontrámos, no entanto, três razões que, podendo ser rebuscadas, talvez tragam alguma luz sobre o assunto, apresentando-as não necessariamente pela sua ordem de importância.

A primeira prende-se com o facto de encontrarmos, ao longo da história do Carcavelinhos vários “desaguizados” com o Sport Lisboa e Benfica, tendo-se assim optado por abandonar um ícone facilmente associado, já na época, aos herdeiros do Sport Lisboa.

A segunda razão, talvez possa ter sido a evidente semelhança com o emblema do Salgueiros que poderá ter criado uma crise de identidade que associada à primeira hipótese tenha levado o Carcavelinhos a tomar a iniciativa de mudar o emblema.

A razão final, talvez mais forte, é que o Carcavelinhos ao longo da sua vida, teve um crescimento de importância muito razoável no meio desportivo português. Ora, a águia era uma simbologia que se havia generalizado em muitos clubes portugueses. Talvez os dirigentes do Carcavelinhos tivessem necessidade de encontrar um símbolo único que inequivocamente ficasse associado ao Clube. Se foi isto, certamente que o conseguiram; quanto às razões porque escolheram a Cruz de Malta e não outro qualquer símbolo, isso não nos foi possível apurar, mas talvez a explicação esteja no significado da própria Cruz de Malta, cuja definição da wikipedia (http://pt.wikipedia.org/) transcrevemos de seguida:

“A cruz de Malta ou cruz de São João é identificada como o símbolo do guerreiro cristão. É uma cruz com oito pontas e tem a forma de quatro braços em V que se juntam em suas bases. Seu desenho é baseado nas cruzes usadas desde a Primeira Cruzada.
Emblema dos Cavaleiros de São João, que foram levados pelos turcos para a ilha de Malta. A força de seu significado vem de suas oito pontas, que expressam as forças centrípetas do espírito e a regeneração. Até hoje a Cruz de Malta é muito utilizada em condecorações militares.”

Podemos assim concluir que a utilização da Cruz de Malta pelo Carcavelinhos, mais que referir a origem cristã do Clube, o que era óbvio, num país fortemente catolicizado, à época, remetiam para a capacidade de luta, vitória, resistência, e regeneração perante as adversidades. A evocação simbólica das forças centrípetas remeteria para o conjunto de vontades que os alcantarenses mantinham em perseguir os seus objectivos de sucesso desportivo em torno de um centro, o próprio Carcavelinhos, simbolizados pelo centro da cruz.

Seria isto?

Nuno Almeida
(todos os direitos reservados)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O significado do emblema do União Foot-ball Lisboa



Depois de ontem vos termos dado a conhecer emblemas de outros clubes que se inspiraram no desenho gráfico do emblema do União Foot-ball Lisboa, hoje vamos falr do significado do emblema do próprio União.
Com algumas variantes, determinadas certamente pela capacidade de desenho dos grafistas, já que estamos a falar da primeira metade do século passado, numa época em que os mecanismos de cópia e reprodução eram bastante limitados, quer em termos de desnvolvimento tecnológico, quer em termos de acesso às próprias tecnologias embrionárias, basicamente conhecem-se dois emblemas do união Foot-ball Lisboa. O que se encontra no topo deste artigo, e um outro que era encimado por um castelo com somente 4 torres.
Tal variante, aliás, não é conhecida, curiosamente, no emblema do Carcavelinhos Football Clube.
Porquê? Sem querermos ser excessivamente rigorosos, esta questão prende-se com as regras da heráldica que determinam que se utilizem cinco torres nas coroas acasteladas dos brazões quando a sede do organismo que o utiliza se localizar numa cidade ou numa sede de concelho. Para vilas o castelo deverá ter 4 torres e para freguesias 3 torres. É assim que poderemos verificar que o Brazão da cidade de Lisboa comporta 5 torres, o da Vila de Óbidos 4, e o da Freguesia de Alcântara somente 3.



Para quem tiver interesse nestas coisas aconselhamos a leitura da seguinte página: http://www.tuvalkin.web.pt/terravista/guincho/1421/bandeira/pt-c.htm

Acontece que até meados dos anos 20 do século passado, o perímetro urbamo de Lisboa, a Ocidente, era determinado pela ribeira de Alcântara, constituindo a Rua Maria Pia uma espécie de estrada de circunvalação. Ora assim sendo, isso significava que Santo Amaro, o berço do União em 1910, encontrava-se fora de portas, embora pertencendo ao Concelho de Lisboa. Dai que o emblema original do União comporta-se até meados da década de 20, um coroa acastelada com somente quatro torres, tendo sido adicionada a quinta torre, quando o perimetro urbano da cidade passou a coincidir com a totalidade do Concelho.
Não deixa assim de ser curioso o facto de um clube com a denominação "Lisboa" ter sido fundado fora da cidade.

Esclarecida a questão do número de torres, passemos ao resto do emblema, coroado por um castelo de cinco torres aouro, é ornamentado, este é ornamentado por 2 rubis (vermelhos) e 3 esmeraldas (verdes) alternadas. é composto por um escudo bordado a ouro, possuindo um segundo escudo, sobreposto, mais pequeno. Entre os dois escudos, 6 seis figuras geométricas irregulares alternam-se nos tons de branco e negro, simbolizando a bandeira da cidade de Lisboa. No centro do escudo secundário encontra-se a sigla "UFL", em letras sobrepostas, representando as iniciais do nome do clube, "União Foot-ball Lisboa". ob estas duas faixas oblíquas e paralelas descendo da direita para a esquerda, uma amarela e a outra vermelha. No emblema que aqui inserimos a faixa superior é a vermelha, mas existem representações em que a posição está invertida.

Estas duas cores, vermelha e amarela eram as cores do equipamento principal do União que trajava camisola com listas verticias alternadas de amarelo e vermelho, com calção preto, sendo o equipamento alternativo baseado nas cores da bandeira de Lisboa, riscas verticais negras e brancas, com uma risca horizontal negra, e calção branco.
Se é compreensível a origem das cores do equipamento secundário, então qual terá sido a razão da escolha das cores amarela e vermelha.
Acontece que o União Foot-ball Lisboa foi fundado, em 3 de Março de 1910, por um grupo de trabalhadores da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, já na altura com sede em Santo Amaro, na Rua 1º de Maio, muito embora esta, à época, se chamasse Rua de São Joaquim.

Ora, até data indeterminada, mas que se pensa ter sido até ao final dos anos 20, as cores dos eléctricos da Carris eram, pelo menos em pate da frota, o vermelho e o amarelo, assim soa normal que os empregados da Carris tenham escolhido para cores do clube que acabavam de fundar, as cores dos Carros Eléctricos da Companhia.




Finalmente, também poderemos especular que a introdução da nomenclatura "Lisboa" na designação do clube, tenha sido uma citação à designação da Companhia Carris e não à cidade de Lisboa, onde, em 1910, não estavam incluidos. Mas a resposta a esta especulação possivelmente nunca a teremos.

Nuno Almeida

(todos os direitos reservados)